A dor de garganta, um dos sintomas mais comuns da prática médica, tanto em adultos quanto em crianças, surge geralmente devido a um quadro de faringite e/ou amigdalite.
Neste artigo vamos abordar as seguintes questões sobre dor de garganta - faringite - amigdalite:
- O que é faringite e amigdalite.
- Diferenças entre faringite viral e faringite bacteriana.
- Sintomas da faringite.
- Causas de garganta inflamada.
- Complicações da faringite.
- Tratamento da dor de garganta.
O que são a faringite e a amigdalite?
Faringite é o nome dado à inflamação da faringe;
amigdalite
é a inflamação das amígdalas. Ambas apresentam como principal sintoma a
dor de garganta. Como estão anatomicamente próximas, é muito comum a
faringe e as amígdalas inflamarem simultaneamente, um quadro chamado de
faringoamigdalite. Apesar de inflamarem juntas, algumas pessoas tem
predominantemente amigdalite, enquanto outras, faringites. Ao longo do
texto vou alternar os termos faringite e amigdalite, mas o que vale para
uma, também serve para a outra.
Antes de continuarmos, estudem o desenho ao lado para saberem de que
estruturas vou falar a seguir. Todas elas podem ser vistas ao abrirmos a
boca em frente a um espelho.
A faringoamigdalite pode ser causada por infecções bacterianas ou
virais. A maioria dos casos é de origem viral. Vários tipos de vírus
podem levar à faringite e/ou amigdalite. A gripe é um exemplo comum de
dor de garganta de origem viral (leia:
DIFERENÇAS ENTRE GRIPE E RESFRIADO).
As faringites virais são processos benignos que se resolvem
espontaneamente, ao contrário das faringites ou amigdalites bacterianas
podem levar a complicações, como abscessos e febre reumática. A dor de
garganta causada por bactérias deve ser sempre tratada com antibióticos
(explico o porquê adiante).
Como distinguir uma amigdalite viral de uma bacteriana?
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Orofaringe |
O modo mais correto é através da coleta de material da garganta por swab
ou Zaragatoa, uma vareta com algodão na ponta usada para colher
material da área inflamada para posterior avaliação laboratorial. A
análise do material colhido pelo swab consegue identificar o agente
infeccioso, seja uma bactéria ou um vírus.
Apesar da ajuda do swab, há um problema de ordem prática: a
identificação do agente infeccioso demora pelo menos 48-72h. Por isso,
muitas vezes os médicos optam por iniciar o tratamento baseado em
achados clínicos. Até já existem testes laboratoriais mais rápidos para
se identificar bactérias, mas nem sempre há facilidade para se colher e
enviar o material para análise.
Explicaremos a seguir como distinguir uma faringite viral de uma faringite bacteriana apenas com elementos clínicos.
Sintomas da faringite | Sintomas da amigdalite
Os sintomas da amigdalites/faringite são:
- Dor de garganta
- Febre
- Dores pelo corpo
- Dor de cabeça
- Prostração
Todos os sintomas citados acima são comuns tanto em infecções virais
quanto bacterianas. São necessários, portanto, outros elementos para
distinguir uma da outra.
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Faringite viral - Inflamação sem edema de úvula, sem pus ou petéquias. |
Normalmente as faringites virais vêm acompanhadas de outros sinais de
infecção das vias respiratórias, como tosse, espirros, constipação
nasal, conjuntivite e/ou rouquidão. Infecções respiratórias de origem
viral não costumam causar sintomas restritos à faringe ou amígdala.
Outra dica é que na faringite viral, apesar da garganta ficar muito
inflamada, não é comum haver pus.
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Amigdalite bacteriana - pontos de pus nas amígdalas e inchaço da úvula |
Já as amigdalites causadas por bactérias, além de não apresentarem os
sintomas respiratórios descritos acima, costumam causar pontos de pus
nas amígdalas e aumento dos linfonodos (gânglios) do pescoço. A
faringite bacteriana também pode causar edema da úvula e petéquias
(pontos hemorrágicos) no palato. A febre da infecção bacteriana costuma
ser mais alta que na viral, mas isso não é uma regra, já que há casos de
gripe com febre bem alta.
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Amigdalite bacteriana - petéquias no palato |
A presença de pus e gânglios aumentados na região do pescoço fala
fortemente a favor de uma faringite bacteriana. Entretanto, algumas
infecções virais, como a mononucleose infecciosa também podem cursar com
estes achados.
A mononucleose é causada pelo vírus Epstein-Barr e costuma se apresenta
com febre, amigdalite purulenta e aumento de linfonodos na região
posterior do pescoço (ao contrário da amigdalite bacteriana que
apresenta aumento dos linfonodos da região anterior do pescoço). Outros
sinais e sintomas possíveis são o aumento do baço, perda de peso,
cansaço extremo e sinais de hepatite. O quadro de mononucleose pode ser
facilmente confundido com uma faringoamigdalite bacteriana. A prescrição
de antibióticos, como a Amoxacilina, em doentes com mononucleose pode
levar a um quadro de alergia, com aparecimento manchas vermelhas
espalhadas pelo corpo. Saiba mais em: (leia:
MONONUCLEOSE - DOENÇA DO BEIJO ).
Como se pode ver, a distinção entre faringites virais e bacteriana é
importante, já que os tratamentos são diferentes. Se houver suspeita de
faringite viral, o indicado é repouso, hidratação e sintomáticos. Se o
quadro sugerir faringite bacteriana, devemos iniciar antibióticos
visando não só acelerar o processo de cura, mas também a prevenção das
complicações e da transmissão para outras pessoas da família,
principalmente aquelas com contato íntimo e prolongado.
Complicações das faringites/amigdalites bacterianas
Entre as complicações das faringites bacterianas, a principal é a febre
reumática, que ocorre principalmente em jovens e crianças (leia:
FEBRE REUMÁTICA | Sintomas e tratamento).
A escarlatina é uma doença causada pela bactéria
Streptococcus. Apresenta-se como faringite, febre e
rash difuso.(leia:
ESCARLATINA | Sintomas e tratamento).
A glomerulonefrite pós estreptocócica é uma lesão renal também causada pela mesma bactéria
Streptococcus. Costuma cursar com hipertensão (leia:
SINTOMAS E TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO), presença de sangue na urina (leia:
HEMATÚRIA (URINA COM SANGUE)) e insuficiência renal aguda. (leia:
INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA ).
Existe uma tipo de psoríase, chamado de psoríase gutata, que está relacionada a faringites pelo
Streptococcus. (leia:
PSORÍASE | Tipos e sintomas). São lesões de pele que surgem sempre que há uma infecção de garganta, desaparecendo após a sua cura.
Tratamento da amigdalite | Tratamento da faringite
Para se evitar as complicações das amigdalites bacterianas descritas
acima, o tratamento deve ser sempre feito com antibióticos. Na maioria
dos casos, em 48h já há uma grande melhora dos sintomas.
O tratamento com antibióticos derivados da penicilina, como amoxacilina,
deve ser feito por 10 dias. Nos pacientes alérgicos a penicilina uma
opção é Azitromicina por 5 dias. Naqueles doentes com intenso edema da
faringe, que não conseguem engolir comprimidos, ou naqueles que não
desejam ficar tomando remédio por vários dias, uma opção é a injeção
intramuscular de penicilina Benzatina, o famoso Benzetacil, administrado
em dose única.
Se os sintomas da faringite bacteriana forem muito fortes, enquanto
espera-se o efeito dos antibióticos, pode-se usar anti-inflamatórios
para aliviar a inflamação da garganta. Mas atenção, os
anti-inflamatórios são apenas sintomáticos, eles não tratam a infecção
bacteriana.
A faringites virais normalmente duram apenas quatro ou cinco dias e se
curam sozinhas. Não é preciso, nem é indicado, o uso de antibióticos. Se
os sintomas forem muito incômodos, pode-se usar anti-inflamatórios por
dois ou três dias. De resto, repouso e boa hidratação.
Tratamentos alternativos:
- Mel: Não há nenhum trabalho que tenha conseguido demonstrar benefício do mel.
- Própolis: Apresenta efeito anti-inflamatório pequeno. Funciona muito menos que qualquer anti-inflamatório comum.
- Papaína: Além de não melhorar, em grandes quantidades pode piorar a inflamação.
- Não há trabalhos que provem a eficácia da homeopatia ou fitoterapia
no tratamento das faringites. O tempo de doença e a incidência de
complicações é igual ao placebo.
Quem quiser alívio sintomático sem tomar muitos remédios, o ideal é
realizar vários gargarejos diários com água morna e uma pitada de sal.
A retirada das amígdalas (amigdalectomia) é uma opção nas crianças que
apresentam mais de seis episódios de faringite estreptocócica por ano.
Como a incidência das complicações é muito menor em adultos, neste grupo
a indicação de amigdalectomia é mais controversa, pois existe a
possibilidade de não haver melhora, fazendo apenas com que o paciente
deixe de ter crises de amigdalites e passe a ter crises de faringites, o
que no final dá no mesmo.
Em pacientes com infecções de garganta de repetição podem-se formar
criptas (pequenos buracos) nas amígdalas. Estas acumulam cáseo (ou
caseum), uma substância amarelada, parecida com pus, que é na verdade
restos celulares de processos inflamatórios antigos. O cáseo pode causar
mau hálito em pessoas com amigdalite/faringite crônica